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- CULTURA LETRADA E CULTURA ORAL NO RIO DE JANEIRO.
postado por :
UENES GOMES
15 de fev. de 2014
Da edição de fevereiro, da Revista de História da Biblioteca Nacional, excelente indicação do Prf. Fabiano Vilaça dos Santos (UFRJ). Cultura Letrada e Cultura oral no Rio de Janeiro dos vice-reis, Marta Beatriz Nizza da Silva. Aqui transcrevo o texto da página 92 da edição supramencionada. Alguns dos maiores problemas enfrentados pelos vice-reis do Brasil na segunda metade do século 18 foram as disputas de fronteira entre portugueses e espanhóis no sul, as dificuldades para disciplinar e prover as tropas e a necessidade de promover novas culturas agrícolas e o comércio. Sobre estas questões há um sem-número de documentos em arquivos brasileiros e estrangeiros, outros tantos publicados, além de trabalhos acadêmicos. Mas os assuntos nos quais Maria Beatriz Nizza da Silva se detém neste livro são de outra natureza. Dedicada à história cultural desde os anos 70, a autora desenvolve, de 1770 até a chegada da corte em 1808, a articulação entre cultura letrada e cultura oral no Rio de Janeiro.
Com uma narrativa ágil e bem encadeada, construída a partir de uma diversificada pesquisa documental em Portugal e no Brasil, a historiadora destaca, por exemplo, a atuação do marquês do Lavradio e de Luiz de Vasconcelos e Souza no período. Seguindo diretrizes de ministros ilustrados, como Martinho de Melo e Castro e D. Rodrigo de Souza Coutinho, os vice-reis conjugaram a dupla empreitada de defender os interesses portugueses no sul e incentivar o progresso científico na capital do Estado do Brasil. Esta é uma das principais chaves para entender Cultura letrada e cultura oral no Rio de Janeiro dos vice-reis.
Outra possibilidade é percorrer o caminho pavimentado pela autora; espécie de pano de fundo para o entendimento da produção de uma cultura letrada nos moldes da ilustração portuguesa: a reforma da Universidade de Coimbra, em 1772; a criação de órgãos de censura; e o trânsito de gente natural do Rio de Janeiro por Instituições de Ensino europeias, dentre outros aspectos.
A ausência de imprensa e de universidade na América portuguesa e o crivo da censura metropolitana não impediram, no espaço colonial, a assimilação de uma cultura letrada por meio de livros e impressos diversos que aqui circulavam. Uns transmitiam o pragmatismo da Coroa para instruir os habitantes, por intermédio dos governantes, sobre o aproveitamento das riquezas naturais da Colônia. Outros, considerados perigosos por seu conteúdo, especialmente sobre religião e política, foram combatidos, como os jornais que noticiavam a Revolução Francesa e tiravam o sono do conde de Resende. Apesar do zelo das autoridades, a entrada desses papéis pelo porto do Rio, de grande efervescência na segunda metade do século 18, foi inevitável. Esses escritos, trazidos por estudantes, burocratas, mercadores, alimentavam conversas privadas e em lugares públicos (as boticas, os mercados), espaços de sociabilidade onde uma população, em grande parte iletrada, consumia os textos por meio de leituras coletivas. Críticas ao rei, às leis da monarquia e ao clero exaltavam os ânimos e animavam a parolagem dos colonos, constituindo também um traço importante da cultura ilustrada luso-brasileira.
UNESP, 351 PÁGINAS <<http://www.estantevirtual.com.br/q/cultura-letrada-e-cultura-oral-no-rio-de-janeiro-dos-vice-reis>>