postado por : UENES GOMES 26 de dez. de 2013

PEREIRA, Carlos Eduardo de Melo. Uma breve História de Limoeiro. Ed. Livro Rápido. 1ª Edição. Olinda, 2013. 337 páginas.
Por Uenes Gomes Barbosa[1]

Carlos Eduardo Pereira é professor de xadrez na escola Suzel Galiza em Limoeiro, região do agreste setentrional de Pernambuco. Ele é limoeirense e formado em Administração e Direito por duas faculdades, a primeira: a Faculdade de Ciências Aplicadas de Limoeiro; a segunda pela Faculdade de Direito de Caruaru, logo temos um bacharel e administrador reescrevendo a história de um município tão presente na historiografia pernambucana. Porém logo como ele deixa claro na ficha catalográfica e em conversas comigo, não é profissional na área, o que como o mestre Freyre o exime de qualquer crítica que lhe possa ser feita, uma vez que Uma Breve História de Limoeiro não é um livro historiográfico e sim um livro de contos. Sendo assim qualquer crítica é bem vinda, mas sabendo o nobre leitor que nosso autor não se preocupou em filiar-se às regras e os métodos que a escrita historiográfica necessita, o livro de Carlos é suave e de uma inteligibilidade extrema embora não tenha, na prática, o cunho histórico.
E a História foi escrita. São cinco capítulos que o nobre autor decidiu tratar como partes. Nestas partes os séculos acumulam décadas e mais décadas de acontecimentos importantes não tão somente em Limoeiro, mas no Brasil e mundo. Ele remonta o século 16 e nele comprova através de citações e reforça na sua bibliografia, textos onde mostra o governo de Nassau apontando para uma aldeia de índios chamada limoeiro, o ano, 1637 precisamente. Quase 400 anos de História copilado de jornais, de livros de historiadores renomados, mapas, atlas, depoimentos e muita fotografia ajudam a se intensificar o significado e a importância de escrever sobre o local onde se mora. Carlos no discorrer de seu texto nos faz lembrar de Vilaça, o saudoso professor Vilaça que realizara a façanha de citar a cidade de Limoeiro, por diversas vezes como sua terra natal (embora não o fosse) e ter livros sobre a aldeia, povoado, vila e depois cidade de Limoeiro. Esses cinco capítulos destarte assim dispostos: 1ª Parte: Século XVII e XVIII; 2ª Parte: Século XIX; 3ª Parte: 1ª Metade do Século XX; 4ª Parte: 2ª Metade do Século XX; 5ª Parte: Século XXI; São contados em forma de diário, dia após dias de acontecimentos – mas apenas os fatos importantes. Com o texto livre de técnicas e sem a linguagem tecnicista, inerente aos criteriosos historiadores de formação, fica ao alcance de todos os curiosos a história de Limoeiro como ele mesmo conta sua terra natal, um documento repleto de momentos e acontecimentos significativos na vida do limoeirense e do pernambucano como um todo.
Na Primeira parte veremos a formação do Brasil a partir da chegada dos portugueses no território até então “desconhecido”. Mas não é todo um capítulo falando deste evento posto que Limoeiro vai aparecer  durante o período holandês quando, como citado anteriormente Limoeiro aparece pela primeira vez numa carta do Conde João Maurício de Nassau. Contudo a história deste município remonta momentos míticos da própria história, a saber, a imagem de N.S. da Apresentação que diversas vezes sumia da capela da aldeia de Poço do Pau para a aldeia de Limoeiro. Contudo a história da princesa do Capibaribe vai sendo construída sobre as lendas faceadas de mitos e fatos que não comprovados tornaram-se imprescindíveis para a construção de uma identidade, mas as fontes são ausentes, onde um historiador da região diz que são memórias fantasiosas e delas o crédito é facultativo. Vilaça, citado no livro do nosso contemporâneo, diz que apesar da fantasia construída acerca deste evento, é lindo ver o surgimento de Limoeiro[2].  É neste capítulo que vamos encontrar nomes importantes como o do padre João Duarte do Sacramento, responsável pela instauração em uma ermida nos arredores de Olinda, a Congregação dos Oratorianos, que vão ser responsáveis pelo desbravamento e povoamento do vale do Capibaribe posteriormente o trabalho de catequese na aldeia de limoeiro. Antônio Rodrigues, “o pardo” preso pela participação na guerra dos Mascates; José Barros Lima, o Cruz Cabugá, tendo sido representante do já distrito de limoeiro. Aparecem informações acerca dos arruados como o de Bom Jardim, já no século 18, Glória do Goitá, Cimbres. Enfim Carlos Pereira fala sobre as informações dadas por Dona Gertrudes Cavalcanti acerca de limoeiro ser muito povoada, revelando peculiaridades. Uma mulher saber escrever era algo raro. Bastando apenas cuidar da casa e dos filhos, não só encontraremos no texto de Carlos esta senhora, mas outras, da mesma família se correspondendo através de cartas.
Neste capítulo vamos ter noção já da imensidão do território de Limoeiro: em 1811 ocupava 1.232 km² do território da Capitania. Veremos a formação do patriarcado, os grandes latifúndios e a criação de gado em locais determinados pelo autor. A implantação de comerciantes portugueses no interior de Pernambuco e sua influência. Veremos os cacoetes para manter os revoltosos da revolução pernambucana invictos das penas, vamos ver a queima de livros de atas que poderiam revelar para nós nos dias atuais informações preciosas dos efeitos da revolução longe da capital. Contudo o texto discorre acerca dos principais eventos do século 19, como a insurreição pernambucana em 1817, a Junta de Goiana[3] e a Convenção de Beberibe, tempos depois a Revolução Praieira. Outros eventos importantes como a confederação do equador a maioridade de Pedro II, decretos e leis que vão favorecer a condição dos escravos no império – incluindo a lei áurea -, as leis que balançaram as classes mais baixas da sociedade e a proclamação da república vão ser tratados mostrando os efeitos na vila. Cita no mais a passagem do Conde D’Eu por Limoeiro em 1889 e o surgimento de Buenos Ayres.
Na terceira, quarta e quinta partes veremos Limoeiro virar município, a oligarquia perdurar não até a década de trinta mas perpetuar-se na família Heráclito do Rego, a economia estourar, o progresso das famílias mais abastadas da região sobretudo os Salsa. Os efeitos da primeira Guerra em Limoeiro e a formação de colônias italianas, alemãs. Percebemos no texto de Carlos Eduardo Pereira um sentimento patrióticos e a preocupação em manter o texto para o alcance de todos. É Limoeiro revisitada por um limoeirense que restaura os sentidos da cidade.
É impressionante a quantidade de dados e informados no texto. A matriz está lá, antes de ser demolida e dos escombros erigir-se a atual igreja Matriz. O progresso de Limoeiro é decorrente em parte ao escoamento de algodão que através da linha férrea vai para a capital. O texto aponta preocupação de populares com relação à falta de calçamento na rua da matriz, muita poeira incomoda a população. Vamos encontrar momentos de calamidade pública quando do surto de bexiga na cidade. Momentos gloriosos como a construção do Ginásio limoeirense e seus renomados professores. Publica-se neste volume nomes de peso na literatura regionalista como o de Austro Costa.
Iremos encontrar limoeiro durante a revolução de trinta, durante a segunda guerra, sufocada durante a ditadura civil militar. Nos reencontraremos enquanto nação quando acontece a redemocratização; os governos sofreram duras influências nestes momentos históricos.
Dotado de uma vasta documentação oral e por pertencer a uma família aristocrática de limoeiro Carlos Pereira esteve em locais estratégicos onde acontecem os movimentos sociais de sua época e da época de seus trisavós. É através de descendentes destes áureos tempos que ele ressuscita momentos importantes. Me confessou num momento em conversa na Livraria Proec, momento em que recebi um volume de presente, que o livro não tem a pretensão de ser um livro crítico, apontando um segmento político. Nele nem esquerda nem direita são mencionado com veemência a ponto de tomar partido. É um texto que não aponta uma causa a não ser da naturalidade limoeirense; o projeto de Carlos tem significante aceitação na sociedade letrada tanto de limoeiro, quando dos locais que já tem alcançado. O livro em parte me tocou bastante quando cita minha região. Siriji é citado várias vezes na narrativa, sobretudo quando a água que é encanada de Siriji para Limoeiro. Carlos vai remontar o momento em que Siriji, não denominada desta forma, crendo eu, Vizinhança[4], pertencera indiretamente a Limoeiro. Siriji pertencera a Bom Jardim, desmembrada em 1928 quando criou-se o município de São Vicente. Mas isto é uma outra história.
Digo que Uma Breve História de Limoeiro é uma obra indispensável para a leitura para compreensão da Limoeiro atual. É um livro que resgata momentos importantes de Limoeiro, mas não esquece qual o propósito maior é apontar o potencial de limoeiro. Dos áureos anos do açúcar, do Algodão, de um comércio intensificado e implantação de indústrias significantes para a economia local, de uma sociedade intelectualizada e de grandes nomes da política pernambucana de um povo que não tem a covardia e não se deixam-se curvar diante de ditaduras, é Limoeiro capaz de erigir um novo tempo. O desenvolvimento é precípuo. Lê-se Uma breve História de Limoeiro apenas no intuito de conhecer Limoeiro, lê-se Uma Breve História de Limoeiro para se descobrir nas ramificações familiares que tomaram conta do agreste pernambucano, nesta narrativa poder-se-á traçar uma análise genealógica e deparar-se com algum parente nosso. Lê-se U.B.H. Limoeiro para dialogar com o futuro de uma cidade que tem uma trajetória política lembrada em todo território nacional e que se fez presente em quase todos os movimentos libertários desde a colônia, perpassando pelo império e a tão sonhada e falha república; Chico Heráclito, o coronelismo personificado e lembrado por Márcio Ananias Vilela na sua dissertação de Mestrado é um exemplo claro do político no cenário nacional. Dentre outros mais. Contudo somos coniventes com a máxima de Tostoi: Se queres ser universal, fala da tua aldeia.

FOTO. Prédio da Prefeitura do Limoeiro/ PE



[1]Graduando em História pela Faculdade de Formação de Professores de Goiana. Numismata, com ênfase em Moedas do Brasil. Membro da Associação Brasileira de História Oral e pesquisador de História Regional, Patrimônio e Brasil Colônia.
[2] Fatos como este aconteceram muito na historiografia dos municípios. A falta de documentação nos deixa reféns de uma história mais consistente e não restando dúvidas estarmos inclinados para o folclore. Os topônimos às vezes vão parecer histórias fantasiosas. Acontecerá com São Vicente Férrer, um “milagre” ter encontrado este santo até então desconhecido em terras de Timbaúba nos idos de 1850 num arrozal.
[3] Goiana vai ser pioneira nos movimentos de emancipação de Pernambuco e as lutas travadas contra os desmandos de Portugal e o despotismo do governo do Brasil. Teobaldo Machado vai descrever este e os outros  eventos revelando uma goiana rebelada por diversos momentos da nossa história no seu livro As Insurreições Liberais em Goiana.
[4] A falta de documentação para citar o primeiro nome de Siriji vai ser satisfatória num trabalho de monografia da Profª Especialista Zezinha Maria da Silva, Geógrafa de São José do Siriji, onde ela faz um estudo da relação do rio Siriji e a comunidade. Neste trabalho há uma referência sobre o possível primeiro nome de Siriji. 

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  1. Que livraria aqui em Recife encontrar este livro,(Uma Breve História de Limoeiro)?

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    1. Em Recife não sei onde podes encontrar, contudo, de certeza, o autor tem para venda, ele tem página no face e é bastante atenciosos. Entre em Contato. Forte abraço

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