postado por : UENES GOMES 26 de dez. de 2013

 
Segunda-feira. É como se começássemos cansados melhorássemos na quarta e estivéssemos a todo vapor na sexta-feira, mas na sexta a saga tem um novo início. No entanto final de semana combina com descanso ao modo colonial, deitado numa varanda apreciando a paisagem se balançando numa rede. De ricos a pobres, a verdade é que todos já utilizaram o artefato de invenção indígena; e nem pensem que nossos antepassados nativos eram preguiçosos, não. A rede servia como cama, para pernoitarem nas ocas! Enfatizando essa mania gostosa, ou melhor à história dessa "cama" em que o corpo se adapta e propicia um conforto peculiar, viajamos ao período pré-cabralino. Nossos nativos já usavam a rede muito antes de ser documentada nos relatórios dos viajantes e por Debret no seus quadros e publicados no livro Viagem pitoresca ao Brasil. As redes produzidas nas aldeias de longe tinham o aspecto das redes mais pobres que conhecemos. Eram confeccionadas de modo artesanal rústico, sem a beleza dos acabamentos rebuscados mais tarde acrescentados na produção. Câmara Cascudo, um grande estudioso do folclore e da cultura popular menciona como eram confeccionadas no período em que a rede era utensílios somente dos indígenas: "Eram confeccionadas em teares artesanais, em pequenas proporções e apenas trançavam um retângulo com fios largos, semelhantes a rede de pesca" (Revista Continente). As redes do modo que conhecemos hoje foi produto da plasticidade em se envolver com a cultura aqui já existente. Ao ter contato com as rústicas e pobres redes dos indígenas os portugueses começaram a adotar métodos mais sofisticados e começaram a deixá-las mais apresentáveis. Eram as redes mais compactas, mais fechadas, seguras e ofereciam aos jesuítas e sertanejos segurança de modo que depois a rede tornou-se meio de transporte, numa configuração traduzida pela obra de Debret. 

Com esse contato com esse novo utensilio mais prático para carregar para onde fosse, logo caiu no gosto dos viajantes. A partir daí mamelucos, sertanejos e missionários da companhia de jesus se renderam ao luxo simples que a rede propiciavam a estas pessoas. Não demorou muito e os navios também começaram a adaptá-las, tornando as viagens menos estafantes. 

No não muito opulento Brasil colonial, a rede era o trono do senhor patriarcal. Armando na varanda e de lá vigiando o funcionamento do latifúndio e seu mundo de escravizados. Gilberto Freyre escreveu: Ociosa, mas alagadas de preocupações sexuais, a vida do senhor de engenho se tornou uma vida de redes [...] da rede não precisava se afastar para dar ordens ao negro, escrever cartas, jogar gamão com parentes e/ou compadres"

Se no nordeste ela tornou-se mais que um móvel plástico, chegou até a ser caixão, nas outras regiões do país ela teve sua influência. Nas regiões centrais do país foi disseminada entre bandeirantes: propícia para dormir, evitava contato com o chão e seus perigos noturnos; Dos mamelucos. Portanto no sul do país não foi bem aceita mediante o frio intenso. Era fina e não protegia. Sendo indispensável mantas de couro ou se usasse a rede, havia sempre fogueiras próximas, aquecendo. A tentativa de levá-la à África não teve muito sucesso uma vez que lá havia o uso maciço das esteiras (e nós também a herdamos) Assim ficando no Brasil sua aceitação quase unanime. Casa-grande e senzala usaram as redes de formas diversas. Contudo diante da precariedade higiênica e as graves epidemias que aconteciam no início da colonização, as redes também foram tachadas como vilãs. Para que as pessoas deixassem de usá-las começou uma árdua campanha difamando-a como anticivilizada, detestável. Argumentos estes que reforçava a troca da rede pela cama, tida mais higiênica. Era anticivilizada porque obrigava o senhor da casa-grande esconde-la da varanda quando as visitas eram anunciadas. Assim como os beirais sumiram, as gelosias também se foram, as redes resistem até os dias de hoje. A que se deve tamanha resistência?

Imagem1. Passeio de rede. Debret.
Imagem2.  Rótula de fasquias de madeira com que se tapa o vão de uma janela; rótula, janela de rótula.
De consulta serviu a Revista de multiculturalidade Continente. A revista trouxe uma reportagem completa sobre as redes. 
Continente nº 139/ jul/12

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