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postado por :
UENES GOMES
2 de jun. de 2014
FALCON, Francisco;
RODRIGUES, Antonio Edmilson. A formação
do Mundo Moderno: a construção do Ocidente dos séculos XIV ao XVIII. Rio de
Janeiro: Elsevier; Campus, 2006. pp. 25 a 32.
Uenes Gomes Barbosa
A Idade Moderna inaugura
uma era de complexa transição do feudalismo ao capitalismo. Durante três
séculos o mundo ocidental vivenciou uma série de processos e adequações, de
movimentos que fazia surgir práticas econômicas e sociais que fossem coerentes
com essa metamorfose. Contudo, esse período transitório no âmbito
socioeconômico acontece devido ao sistema feudal já não mais permanecer com
suas bases sólidas, o comportamento daquela sociedade subsistente e agrária já
não mais era um modelo desse momento que estamos tratando; o renascimento das
cidades e o comércio tomam a idade média de diversos movimentos que transforma
a Europa e o mundo, posteriormente.
O mercantilismo foi uma
prática econômica, característica dos tempos modernos onde o Estado tem participação
efetiva nesse processo de aquisição e administração das riquezas conquistas e é
sui generis do regime absolutista. O
seu desenvolvimento se verá multifacetada pelos seus opositores, que fazem uma
“dissecação” do desse momento da história econômica mundial e divide o
mercantilismo em subcategorias. Deste modo, tratando as políticas mercantis no texto, Francisco Falcon e Antônio
Edmilson Rodrigues são objetivos e categóricos quanto às explicações dadas
acerca do mercantilismo, colocando o pensamento de Maurici e Dobb como válido -
e coerente com Adam Smith[1] - “o mercantilismo foi
essencialmente a política econômica de uma era de acumulação primitiva” (p.25).
Os autores deixam claro que essa prática
econômica surge beneficiada da crise d’outro sistema que começara a ruir e não
mais pudera sustentar suas bases, é mister perceber também, que o mercantilismo
não inaugura um momento inédito no cenário econômico europeu. Com a intervenção
o estado houve apenas uma manutenção de práticas já existentes no medievo,
acrescido de objetivos que iriam dinamizar essa nova política. “O Estado estava
no centro dos procedimentos mercantilistas [...] era ao mesmo tempo o sujeito e
o objeto” (p.27).
Importante perceber essa
política como como um elemento heterogêneo, num todo caótico se tomarmos esse
momento como objetivo principal desta análise. Sendo assim os autores são
felizes ao alertar o leitor que havia vários tipos de manifestações do sistema
mercantilista e em locais diferentes. Veja:
O mercantilismo é uma designação que tenta
emprestar uma certa coerência a determinadas ideias político-econômicas e às
práticas delas decorrentes, típicas da Idade Moderna europeia, e que demonstram ser bastante variáveis e conforme
consideremos épocas e lugares distintos (p.27).
No segundo momento do
texto os autores reforçam o que fora exposto anteriormente, a denominação e
como o mercantilismo se comportou por onde fora adotado comentando suas
características principais, estando elas do ideário das políticas econômicas
urbanas. Destaca que “existe uma tipologia [...] associando cada um deles a uma
ou mais imagens estereotipadas” (p.28). Os momentos finais do texto são para
reforçar as características dessa mudança no âmbito econômico em quatro etapas:
1º. Metalismo; 2º. Balança comercial favorável; 3º. Coubertismo; 4º. Pacto
Colonial. Dessas quatro etapas é salutar o quarto, dado maior protagonismo nos
tempos modernos e sendo ela uma das políticas mais exitosas do exclusivismo dos
estados nacionais. Entretanto, toda a evolução do mercantilismo até ser
derribada e substituída pelo capitalismo foi marcada pelas transformações,
mesmo gradual como coloca os autores. É mister perceber que o autor quebra com
o mito que o mercantilismo se configurou apenas nas formas que foram elencadas
e diluídas nas quatro etapas; importa saber que o mercantilismo começa, ao
passo que entra em processo de transformação ao capitalismo, a tomar forma de
política acumulativa de riquezas, “a degradação do sistema feudal e a progressiva
estruturação do sistema capitalista ocorreram durante um período de transição
sempre em estreitas e recíprocas relações” (p.31).
Sobre as principais transformações socioeconômicas
ao longo do período de transição do feudalismo para o capitalismo os autores
deixam claro a discussão sobre a separação do homem do seu trabalho,
colocando-os em situações opostas mas que se precisam para manterem-se.
É importante ter em vista a relação capital-trabalho
[...] fundamental que se analise a constituição histórica de um exército de
mão-de-obra composto de trabalhadores dispostos a alugar a própria força de
trabalho, mas sem possuírem quaisquer direitos sobre o fruto de trabalho (idem).
O capitalismo, galopante, aparece nesse estágio do
mercantilismo, quando já se esboça uma sociedade proletária, dissociada do que
lhes assegurava enquanto trabalhadores. O parágrafo ilustra o momento em que o
capital acumulado nas mãos de poucos, forja uma nova sociedade; “O trabalhador
desvinculou-se sucessivamente daquelas formas muito variadas de exploração e
sujeição coletivas e pessoais, típicas das sociedades feudais e/ou
pré-capitalistas” (p.32). E será esta sociedade que caracterizar-se-á por
manter a cúpula piramidal, fazendo com que se perceba a relação camponesa
presente durante todos os eventos iniciais da Idade Moderna.
[1] Adam Smith foi um economista inglês, de pensamento liberal,
primava pelo livre comércio e opunha-se às práticas mercantis por serem uma
nova face da velha prática feudal.