postado por : UENES GOMES 23 de jul. de 2014

1. Segundo Imperador do Brasil. Grande precursor da 
formação identitária deste país. Patrono do IHGB.
Não difícil encontramo-nos perdidos quanto a nossa identidade. De onde viemos, quem somos e para onde vamos são indagações que norteiam o pensamento contemporâneo para situar a nós mesmos no gentílico Brasileiro. É uma temática recorrente nas rodas intelectuais, nas academias, universidades e onde haja pessoas falando a língua brasileira. Todos preocupados consigo mesmos: Quem são?!. Mas esta não é uma preocupação exclusivamente do século 21, deste ano, não! Discutir nossas origens, nosso papel social, nosso comportamento, é uma maneira de nos significar e nos reconhecer, e é uma prática desde os primeiros anos deste país.
No século XIX, o Império lutava para manter sua unidade, porque corria-se o risco da cisão e toda a América Portuguesa se desfragmentar como aconteceu na América Espanhola[1]; Contudo Portugal conseguira manter seu território unificado. Logo o Projeto Brasil estava começando a tomar forma e consequentemente o projeto de nação. O IHGB vai promover um concurso onde Francisco Adolfo Varnhagen ganha o prêmio e escreve a primeira obra no brasil sobre o nosso país. No entanto é no segundo reinado que as formas de nação, de estado vão se consolidando. A interpretação do país é uma encomenda do Imperador que mesmo sabendo de todos os problemas que o país enfrentava gostaria de projetar a ideia de uma nação harmônica e que fosse uma narrativa que agradasse a Europa sobretudo. Havia sido excluído desse primeiro texto tudo que fosse negativo ao desenvolvimento intelectual, então nascia uma nação que não tinha negros, que não tinha índios, pois esses sujeitos eram sinais de regresso de incivilidade, e o Varnhagen é mais contundente em afirmar que o nativo é mais tolerável que o negro, pois este foi introduzido depois e representa o atraso do país. Nós vamos ver uma gama de pensadores, estrangeiros escrevendo sobre a formação do Brasil de forma que aniquilaram por completo sua essência. O Brasil é um país sem problemas.
A imagem do Brasil que se queria projetar no mundo era de uma nação branca e civilizada, todo estereotipado ao modo europeu de ser. Isto não mudou muito ao longo do século, tendo se intensificado nos anos posteriores a proclamação da República com os alargamentos das cidades, projetos de imigração... Monta-se uma conjuntura de ideias para reforçar esse branqueamento do país e esconder a verdadeira cara do imenso território brasileiro.
No século XX, a luta incansável pela procura da identidade do país tem retomada, teorias raciais, a construção do mito da democracia racial sustentada por Gilberto Freyre e criticada duramente por Darcy Ribeiro[2].
Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado e mais uma leva de estudiosos ávidos para dar a resposta que todos queriam saber, são combustíveis para responder a célebre pergunta: O que é o Brasil?
Neste relatório sobre o trabalho audiovisual Intérpretes do Brasil, produzido pela Tv Cultura, que reúne vários estudiosos abordando o conceito de identidade pretende-se debater a temática identitária do brasileiro.  Tendo como análise, Darcy Ribeiro a proposta desta narrativa.
Darcy Ribeiro, antropólogo, sociólogo, historiador, etnólogo, foi um estudioso do século XX que procurou sintetizar o que era o país onde ele vivia. Nascido em Minas não negou sua natureza, orgulhoso de sua terra dedicou toda sua vida aos estudos da nossa nação. Enfocando sempre no nativo desenvolveu trabalhos brilhantes e de grande importância para o conhecimento científico nacional. Sendo responsável mais tarde de criar uma universidade a UNB, fruto de conflitos de ideias dentro da Universidade de São Paulo.
A compreensão do país pelo nosso antropólogo se dá a partir de onde ele está. Tomando Gilberto Freyre como exemplo, outro estudioso do Brasil, a visão do analista sobre a casa grande, estando ele, lá, sempre será passivo, não logrando ao cativo a real condição social do indivíduo; Escrever sobre este país usando como fonte olhares exógenos, jamais poderia despir o país que Darcy tanto amou de tal forma que conseguisse entende-lo e por isto é importante notar que Darcy vai na fonte, colhe de lá o embrião que germinará em diversas obras, sempre na perspectiva da alteridade. Mesmo escrevendo sobre o Brasil ele constatou que o que fizera não era tão relevante, era apenas mais uma forma de reafirmar o que o “mundo civilizado” pensava sobre a sociedade ocidental. Ser etnocêntrico pareceu ser o problema dele, olhar a cultura de forma hierárquica. Como se existisse uma cultura superior a outra. E é Franz Boas que traz uma discussão válida sobre isto, ele diz “frequentemente me pergunto que vantagem nossa “boa sociedade” possui sobre aquela dos “selvagens” e descubro, quanto mais vejo de seus costumes, que não temos o direito de olhá-los de cima para baixo”
A construção cultural do Brasil resulta da fusão de três culturas, a europeia, a indígena e a africana. E Darcy reconhece que se colocar o país no centro do mundo, dando real importância a ele, poderemos nos conhecer melhor. Partindo do estranhamento de seus próprios estudos sentiu necessidades de inserir na historiografia novos elementos, sui generis d’um povo sincrético como nós. A apresentação de uma teoria própria nos daria aporte para nos estudar. O seu livro A América e a Civilização trata das diferenças e os certames da nossa população inerente aos da América do Norte. Se não demos certo por quê, e eles se não tinham nada para crescer como chegaram a ser a maior potência econômica do planeta. De sobremaneira é neste livro que ele trata da transfiguração da cultura, posto que é a junção dessas três culturas e dão luz a uma que não nem portuguesa, nem europeia nem africana, é brasileira.
O saudoso professor, criador de teorias e estudioso dos indígenas nos deixa a reflexão sobre o que somos. Se somos realmente uma nação, por que vivemos num país onde as regiões mais parecem autônomas? Há no Brasil uma realidade dialética, onde não ocorreu a desfragmentação física, mas se formos demarcar utilizando os conceitos culturais, há no país vários Brasis. 
Uenes Gomes Barbosa.


1 No século XIX o Brasil era um Império entre repúblicas. Os ventos liberais da Independência das Colônias do Norte e os levantes desencadeados a partir de 1789, influenciaram demais o pensamento da américa.
[2] Brasil Colonial. Luiz Roberto Lopes.

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